O suor arranha, o rosto escorre.
Olha o caos na palma da minha mão.
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Izabela/Bells. 20. Por aí. "A natureza dá o seu jeito; mas nós, mãe, nós somos humanos, somos contranaturais, somos antinaturais. O homem não é natural. Na verdade o homem odeia a natureza. Eu odeio a natureza, mãe, essa natureza que monocórdia me diz que vou morrer vou morrer." — Renato Essenfelder Links
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quarta-feira, 12 de março de 2014
amargo. todos os dias eu tenho medo. tenho medo quando chego do trabalho à noite, mas não é por causa do escuro ou do horário. tenho medo ao sair de manhã, na luz do sol. tenho medo quando me visto. tenho medo quando passo por um aglomerado de gente. tenho medo dentro dos metrôs e dos trens. tenho medo por mim e por todas ao meu redor. e esse medo tem gosto, um gosto forte e amargo, que amarra a boca e embrulha o estômago. que pára o coração. desço do ônibus e já passa das dez horas da noite, antes disso o medo estava controlado, a luz sempre passa aquela falsa ideia de segurança. eu aperto o passo, desligo a música, tiro os fones. se alguém estiver atrás de mim, eu vou ouvir. minha cabeça virada pra frente mas meus olhos não param de olhar para os lados, frenéticos, nervosos - paranóicos. e eu fico repetindo na minha cabeça o quanto sou estúpida por ter medo, que nada vai me acontecer, que logo estou em casa. mas o gosto amargo fica na boca como um lembrete. que medo é esse? essas lágrimas que brigam pra sair dos meus olhos no trajeto até minha casa? essa agonia e esse tremor? não tenho medo do escuro, nem de cair ou de ser atropelada, nem que me roubem o celular ou a bolsa. tenho medo que alguém apareça e me tire minha dignidade, como já tiraram e tiram e tentam tirar de tantas como eu todos os dias. tenho medo da invasão, da truculência, da voz grossa, do desrespeito ao consetimento e do silêncio. do meu silêncio. tenho medo que silenciem o meu "não" e que me roubem de mim. tenho medo porque fui ensinada a ter medo e com razão. tenho medo porque nunca os ensinaram a não fazê-lo. tenho medo porque a culpa vai ser minha. tenho medo não só por mim, mas por cada uma em casa, no metrô, no trem, no ônibus, no trabalho ou na rua. eu tenho medo por todas elas e sei que elas também temem por mim. sei que elas também tem esse gosto amargo na boca. e é por isso que, mesmo morrendo de medo, eu continuo. e elas continuam também. porque um dia esse gosto amargo de medo há de desaparecer. |