O suor arranha, o rosto escorre.
Olha o caos na palma da minha mão.
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Izabela/Bells. 20. Por aí. "A natureza dá o seu jeito; mas nós, mãe, nós somos humanos, somos contranaturais, somos antinaturais. O homem não é natural. Na verdade o homem odeia a natureza. Eu odeio a natureza, mãe, essa natureza que monocórdia me diz que vou morrer vou morrer." — Renato Essenfelder Links
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terça-feira, 4 de dezembro de 2012
Eu não sei bem o que eu estava procurando naquela noite. Não sei nem se estava procurando algo. Estava quente, realmente quente, e eu estava sozinha. Um garoto estava comigo, mas já havia ido embora, eu fiquei. A avenida era grande e por ser fim de ano, estava cheia e iluminada, como eu gosto. Nunca fui muito fã de natal, mas sempre amei todas as luzes e a forma como as pessoas pareciam ter menos medo de ficar até tarde na rua conversando, rindo, fazendo compras e esse tipo de coisa. Se eu dissesse que me sentia sozinha, estaria mentindo. Não era solidão, era só aquela sensação de que tem algo faltando, algo muito importante, algo que você não sabe o que é, mas é praticamente vital. Por horas andei a esmo, observando as pessoas e rindo sozinha dos meus próprios pensamentos. Pela primeira vez em muito tempo, senti falta de ter alguem pra dividi-los, pra rir comigo daquele tipo de besteira que passa única e exclusivamente pela minha cabeça. Ah, tinha aquele garoto, é verdade... mas não, ele não entenderia. Já havia tentado e todo o retorno que ele me deu foi um olhar de "você é louca", mas não daquela forma "você é louca e eu te acho incrível por isso", é só um "você é louca" mesmo, sem nenhuma ponta de graça ou admiração. Se você me perguntasse o porquê de eu estar vendo um cara como esses, eu não saberia responder. Ou talvez saberia, mas a verdade é que a resposta é algo humilhante demais pra ser dito em voz alta. É que ele era completamente diferente de você. Em todos os aspectos. Você faz piada da desgraça alheia, ele no máximo dá uma risadinha pra se sentir culpado logo em seguida. Você achava graça de todos os palavrões incluídos no meu vocabulário e na minha mania de amaldiçoar as coisas o tempo todo, ele achava deplorável e tentava mudar isso em mim a todo custo. Eu sabia o porquê de estar com ele, mas não sabia o porquê dele estar comigo. Concluí que provavelmente tínhamos as mesmas razões. Escolhemos alguém completamente diferente daquilo que realmente queremos, porque quem queremos está longe demais, já foi, já passou e não quer ser lembrado. E eu não quero lembrar também. Mas eu lembro, oh, como lembro. Em cada aspecto desse estranho que é o teu oposto, eu te vejo ali. Sinto tua ausência em mim, doendo, queimando, em carne viva. Te imagino ao meu lado fazendo piada daquele estranho que eu havia trazido pra minha vida sem realmente querê-lo. De como ele fala polido e de como ele desalinhava o cabelo cuidadosamente, fio por fio, só pra parecer que na verdade ele havia acordado daquele jeito, de como ele censurava os meus palavrões e de como ele odiava quando eu saía usando só roupas pretas. E eu fazia tudo que o incomodava, meio que na esperança de que ele entendesse, meio que na esperança de que eu visse nele algo que me lembrasse, mesmo que bem vagamente, você. Mas não havia nada. Nunca houve. E nem haveria. E na verdade, não haveria nada de você em ninguém, porque você foi e é único. Seus remédios, seu cabelo e a forma que você me olhava quando me via usando um short realmente curto. E o seu sorriso. E todos os detalhes seus que fiz questão de decorar enquanto estivemos juntos, porque eu sabia que não ia durar. Eu queria que durasse, fiz votos pra que durasse, mas não durou. Não virou namoro, não virou nada. Não vingou. A única coisa que virou foi a minha vida, virou de ponta cabeça. Mas você não viu, e eu só vi depois que você já estava longe demais. Agora eu também preciso de remédios, mesmo que não sejam tão pesados quanto os seus. E sempre que me olho no espelho, procuro me enxergar como você me enxergava antes de resolver desgostar de mim, mas a única coisa que enxergo é o que você deixou. Me olho no espelho e ainda vejo aquela garota sentada na poltrona da sala te vendo acenar com a cabeça, um último pedido de desculpas silencioso estampado no seu olhar e cheio de vontade de nunca mais voltar. Não sei quanto tempo perdi nesse mar de pensamentos, sei que caí em mim quando um vento fresco bateu no meu rosto e fez meus cabelos voarem. Já era tarde e as pessoas estavam, finalmente, começando a ir embora. E eu resolvi ir também. Andei alguns metros até a estação de metrô, desci as escadas e estava prestes a retirar o bilhete do meu bolso quando senti como se jogassem álcool naquela ausência em carne viva. Rindo e falando alto, e eu sabia que estava meio bêbado. Sorriu pra mim e veio andando na minha direção. Seu sorriso aumentava conforme a distância diminuía, até que não havia mais distância. Até que me envolveu em seus braços sem dizer uma só palavra. Senti um aroma inconfundível - um pouco de álcool e nicotina misturados ao seu aroma natural e o perfume que eu havia escolhido. Senti o mundo virar de ponta cabeça novamente. Era você. |